Doze tipos de ANTIativistas veganos, por Daniel Umisedo

Lisa Simpson, d’Os Simpsons, no episódio “Lisa Vegetariana”, correspondendo ao tipo “chato(a) do churrasco”,
um dos exemplos de antiativistas listados a seguir

Ser vegano é assumir um fardo pesado. É ir contra a maioria, contra o senso-comum de que animais são objetos. E parte disso inclui enfrentar detratores da nossa causa nem sempre honestos em sua forma de argumentar.
Nessas horas, vale o cuidado de não nos rebaixarmos ao nível de nossos adversários. Se usamos uma informação a qual não podemos confirmar irrefutavelmente (como a falácia da naturalidade do veganismo), cometemos o erro do “fogo amigo material”, relacionado ao conteúdo do argumento. Se expomos argumentos corretos, mas da mesma forma raivosa ou pejorativa que incitou nossa indignação, cometemos o erro do “fogo amigo formal”, relacionado à forma de se expressar.
Para evitar os efeitos devastadores do fogo amigo para a causa, vale lembrar da frase da nossa ativista Andressa Gama: “seja o vegano que você gostaria de ter conhecido quando não era um”. Ou seja, não só impecavelmente bem informado, mas também galhardo e incólume frente a baixarias.
Dito isso, exporemos de maneira didática doze tipos de comportamento que podem afastar as pessoas que queremos atingir da causa.

1) O vinculante:
Associa a prática do veganismo a um estereótipo (por exemplo, “hippie”), como se o veganismo estivesse necessariamente ligado a um tipo de comportamento.
A único aspecto que distingue um vegano das outras pessoas é a opção de não consumir exploração animal (isso envolve desde não comer carne até se recusar a frequentar zoológicos). De resto, um vegano pode ser um alternativo que vive numa ecovila com casas construídas com permacultura e só usa roupas artesanais… ou pode ser um negociante do mercado financeiro que usa terno, gravata e sapato social (de poliuretano, sem couro) e ama cada minuto capitalista de sua vida.
A associação do veganismo a estereótipos, além de preconceituosa, cria uma barreira desnecessária à divulgação da causa. Ao associá-lo com a ideologia hippie, cria-se a antipatia de quem não gosta de hippies. Ao associá-lo com ortorexia e obsessão por boa forma, cria-se a antipatia de quem não abre mão do prazer do paladar. Dá-se margem para reacionários abusarem da falácia do espantalho, que consiste em formar uma ideia equivocada daquilo que se pretende combater e criticar o adversário por características que não lhe pertencem. As vezes, o próprio vegano monta o espantalho a ser espancado.

2) O alternativo:
Aquele que desiste de mudar a sociedade e busca criar um paraíso particular, como uma ecovila, abandonando os oprimidos à própria sorte.

3) O antropocêntrico:
Aquele que desvia a pauta dos direitos dos animais para outras mais palatáveis socialmente, como a saúde ou meio ambiente.
Como bem disse o vlogger Pirula, quem adota o veganismo pela questão ambiental não deveria se dar o direito de criticar quem cria galinhas no quintal para o próprio consumo e aproveita o esterco como adubo, pois o impacto ambiental dessa atividade é praticamente nulo. O argumento pela saúde também é frágil, pois é de fato possível ter uma dieta saudável com derivados de animais inclusos, consumidos moderadamente.
É tentador adotar o discurso de que o veganismo oferece vantagens para os seres humanos, na busca de uma adesão mais fácil, mas o direito dos animais à vida livre e sem sofrimento é a único tema que não admite brechas dentro do veganismo.

4) O bem-estarista:
Ignora o direito dos animais à vida e à liberdade adotando a como meta a ausência de sofrimento físico, muito mais apelativa. Fruto de desespero ou derrotismo, se vindo de ativistas bem informados, ou do desconhecimento de ativistas que ainda mantém algumas camadas de especismo.

5) O chato do churrasco:
A causa é urgente, mas devemos saber que existem momentos apropriados para abordá-la. Sob o risco de sermos terminantemente recusados por aqueles que queremos que nos ouçam.

6) O misantropo:
Tendo como exemplar típico Gary Yourofsky (infelizmente o ativista vegano mais conhecido do mundo), se comporta como um zumbi mal-humorado que vive vociferando seu ódio contra a humanidade, criando assim uma imagem antipática dos ativistas, e consequentemente da causa.
Vale lembrar que o humor é válido para quebrar o gelo e criar uma abertura para falar sobre o assunto.

7) O poliana:
Ao contrário do anterior, faz uma patética demonstração de como é saudável, alegre e tolerante, tudo graças ao veganismo. Como dizia Krishnamurti, “para ser feliz é preciso ser sério”. Complementando o que foi dito no item anterior, é preciso brincar, mas também é preciso saber a hora de brincar, pois a causa é seriíssima; e não apenas admite como exige momentos de indignação.

8) O relativista:
Aquele que aceita a pluralidade pela pluralidade. Sem levar em conta que direitos são inquestionáveis, absolutistas por definição, não admitem relativismos. O relativista, com medo de perder aliados, não se dá ao trabalho de conscientizar pessoas que ainda não deixaram de ver animais como objetos e teimosamente continuam a consumir seus derivados.

9) O monotemático:
Aquele que foca sua luta pelos direitos dos animais em um só tema (exemplo: rodeios), como se houvesse uma hierarquia de importância sobre quais animais devem ser libertos.

10) O gororobeiro:
Aquele que, no afã de provar que a alimentação vegana não implica em nenhum sacrifício em termos de sabor, prepara refeições sem ter a devida habilidade para isso. Dispensável dizer o quanto isso é prejudicial para o movimento, pois o paladar pode criar repúdio tanto quanto cria simpatia.

11) O naturalista:
Aquele que apela para a falácia da naturalidade do veganismo, como se tudo que viesse da natureza fosse sagrado e benéfico (tsunamis e cogumelos venenosos são naturais…) e tudo de vil fosse obra exclusiva dos seres humanos. Ignorando que muitas vezes foi o engenho humano que criou as condições para a libertação dos animais, como no caso dos motores que substituíram os cavalos como força motriz.

12) O porra-louca:
Exemplificada tipicamente pelos ativistas da PETA (People for Ethical Treatment of Animals), na busca desesperada pelos holofotes, acaba retratando os ativistas como palhaços histéricos.

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