1) Veganismo não está ligado a estereótipos (ou não deveria estar).
É um equívoco associar o veganismo a um determinado estereótipo: a uma religião, a um modo de se vestir, a uma profissão, a cuidados com a saúde etc.
A única coisa que se distingue veganos de outras pessoas é: evitar consumir animais. Ponto. Fora isso, eles podem ser como qualquer outra pessoa.
Um vegano pode ser tanto alguém que vive numa ecovila em casas construídas com permacultura e usa roupas construídas artesanalmente, quanto pode ser um acionista do mercado financeiro que usa terno, gravata e sapato social (de poliuretano, sem couro) e ama cada minuto capitalista de sua vida.
Um vegano pode ser tanto um militante de esquerda quanto um reacionário direitista que defende que bandido bom é bandido morto.
Um vegano pode ser tanto um ortoréxico que calcula tudo que come quanto um adepto dejunk food.
Sim, aí está outro equívoco da ideia que as pessoas tem sobre o veganismo: de que está indissociavelmente ligada à preocupação com a saúde. Não necessariamente. Existem veganos que adoram comer “porcaria” vegana: frituras, doces, massas etc. A única coisa que os distingue é que o junk food que eles comem não contém ingredientes de origem animal.
Como já disse Claúdio Godoy, ativista da ANDA (Agência de Notícias pelos Direitos dos Animais), veganismo NÃO É estilo de vida. Porque estilo de vida tem a ver com as suas escolhas que não influenciam a vida dos demais: o time de futebol para o qual você torce, a música que você ouve, as roupas que você veste. Veganismo tem a ver com alteridade, ou seja, com a sua relação com os outros.
A associação do veganismo com um determinado estereótipo (alternativos. esquerdistas, naturebas etc), além de ser uma falácia, cria uma barreira desnecessária para a adesão à causa. Por isso, é preciso deixar claro que ninguém precisa deixar de ser o que é para ser vegano. Você pode ser de esquerda, de direita, natureba, atleta, obeso, roqueiro, pagodeiro, religioso, ateu, corintiano, palmeirense, odiar futebol, e ainda assim ser vegano. O veganismo NÃO É um estilo de vida, mas sim um posicionamento moral compatível com qualquer estilo de vida.
2) Veganos não são sectários (ou não deveriam ser).
Muito se ouve: “ah, os veganos são arrogantes, botam uma camisa escrito ‘VEGANO’ e ficam por aí se achando melhores que os outros”.
Pessoas que se acham melhores que as demais estão erradas de qualquer maneira, sendo veganas ou não.
O fato de ser vegano não garante que uma pessoa seja virtuosa, como bem lembra Robson Fernando de Souza, ao comentar essa divisão estúpida entre “veganos do bem” e “não-veganos do mal”. Veganos são pessoas cheias de defeitos como quaisquer outras. Nada impede que um vegano seja racista, machista, desonesto etc. Um defeito muito visível em vários ativistas veganos é a antipatia. Exemplo típico é aquele que é, infelizmente, o ativista mais conhecido do mundo: Gary Yourofsky. Que vive vociferando seu ódio contra a humanidade em suas palestras: “Ah, as pessoas andam por aí como se não estivessem causando mal nenhum, como se fosse natural consumir dor e sofrimento”.
A postura que veganos deveriam ter com não-veganos (“onívoros” é um termo a ser evitado, pois onívoros todos somos, biologicamente falando) é de tolerância, mas não conivência. Uma amiga minha tem um bom lema nesse sentido: “Seja o vegano que você gostaria de ter conhecido quando ainda não era um”
Ou seja, uma postura antipática, de dedos na cara, é PREJUDICIAL à causa. Nas palavras de Robson: “Toda vez que alguém que faz essa divisão tenta promover conscientização, fecham-se portas, queimam-se pontes, converte-se pessoas meramente não-veganas em carnistas preconceituosos e intolerantes contra vegans ativistas”.
Mas ainda assim devemos reiterar que consumir animais, existindo alternativas, é moralmente inaceitável. Mas a postura que devemos ter é a mesma que temos ao corrigir uma criança que comete uma falta por carência de discernimento: deve-se orientar, argumentar, e demonstrar que não causar dano aos demais é o caminho mais vantajoso para nós mesmos. Corrigir sim, mas não violentamente. E fazer isso nos momentos adequados, onde exista uma abertura, e nunca no meio de um churrasco (comentei sobre isso no post Doze tipos de ANTIativistas veganos, um deles sendo o “chato do churrasco”).
3) Veganismo não implica em grandes sacrifícios.
Quando alguém decide se aprofundar no veganismo. as dúvidas mais frequentes dizem respeito à alimentação. Sendo que esta é, na verdade, a parte mais simples de ser vegano.
Uma boa resposta para a clássica pergunta “Mas vegano come o quê?” é “Tudo que você come, menos o que vem de origem animal”. Ou seja, arroz, feijão, batata (que pode ser até frita, uma vez que veganismo não se define como preocupação com a saúde), massas (não é tão difícil encontrar opções sem ovos) etc. Se prestarmos atenção, quase qualquer pessoa tem sua dieta composta majoritariamente de vegetais.
Alimentos caros ou difíceis de achar como goji berry ou amaranto NÃO SÃO obrigatórios na dieta vegana. Na verdade, são bastante dispensáveis. A necessidade desses produtos para uma nutrição completa é mais uma invenção da máquina de propaganda que quer transformar o veganismo num padrão de consumo, descartando seu caráter moral (mais sobre isso em post do Veganagente, comentando a abordagem exclusivamente comercial do veganismo pelo programa global Pequenas Empresas Grandes Negócios).
Mas sim, o veganismo implica em alguns sacrifícios. Relacionados principalmente aos outros bens de consumo, não aos alimentos.
É difícil encontrar cosméticos, produtos de higiene pessoal e de limpeza veganos em qualquer estabelecimento (lembrando que estes produtos, além de serem livres de componentes de origem animal, também não podem ter sido testados em animais, para receber a alcunha de “veganos”). Geralmente, é necessário comprá-los pela internet. o que implica em gastos com frete. Algumas marcas (como a de produtos de higiene bucal Contente) fornecem a opção de compra por atacado, o que possibilita um desconto ao consumidor.
Mas sim, esses produtos ainda são mais caros, pela falta de um mercado consumidor constante e pelo maior custo de produção.
Como disse, a prática do veganismo implica em algum sacrifício, mas não emgrandes sacrifícios. Ficar desnutrido ou estar condenado a só consumir alimentos caros, por exemplo, é um mito.
Espero que este texto encoraje as pessoas a se aprofundarem na prática do veganismo, ao livrá-las dessas três bolas de ferro. Se você, caro leitor, está disposto a isso, saiba que:
1) Você não precisa deixar de ser o que é para ser vegano.
2) Veganismo não implica em odiar nem ser odiado. Nosso objetivo é a paz.
3) Ser vegano implica em algum esforço, mas nada que vá te deixar desnutrido ou pobre.
2) Veganismo não implica em odiar nem ser odiado. Nosso objetivo é a paz.
3) Ser vegano implica em algum esforço, mas nada que vá te deixar desnutrido ou pobre.
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