Alerta às pessoas de esquerda que defendem “reformas de bem-estar animal”: o bem-estarismo é uma posição essencialmente de direita
Apoiar o “bem-estar animal” é estar do lado de quem, tal como patrões exploradores de trabalhadores, lucra a partir de uma situação de privação de direitos e coisificação da vida alheia. É defender que uma forma de exploração de seres vulneráveis merecedores de direitos não acabe, mas sim seja apenas reformada e suavizada.
Bem-estarismo é fundamentalmente reformismo conservador. É fazer pequenos ajustes na ordem vigente, fazê-la parecer mais “humana” e “compassiva”, para protegê-la dos opositores das opressões. Não notam que ele está para a exploração animal tal como o reformismo paliativo está para o capitalismo.
A defesa do “bem-estar animal” acha “ótimo”, por exemplo, uma fazenda deixar de confinar galinhas “poedeiras” em enormes granjas repletas de baterias de gaiolas e remanejá-las para vastas criações denominadas free-range (“livre alcance”, criação sem gaiolas). Pessoas de esquerda que a apoiam não percebem que isso não é tão diferente assim de quando uma empresa com má reputação, envolvida com emprego degradante de mão-de-obra mal remunerada, crimes ambientais e lobbies políticos reacionários, instala ar condicionado, cadeiras acolchoadas, teclados ergonômicos e música ambientenew age em seus escritórios e fábricas e dá pontualmente 15% de reajuste salarial para parecer “ética”.
O bem-estarismo e o reformismo conservador também têm em comum o fato de que não são orientados para o respeito à dignidade dos desejosos de liberdade, mas sim para diminuir as pressões dos emancipacionistas, fornecer ao mercado consumidor uma (ilusória) imagem dos exploradores como “humanitários” e “compassivos” – e uma do sistema como um todo como “valorizador do bem-estar” dos explorados – e deixar “claro” à sociedade como os anticapitalistas e antiespecistas são “extremistas defensores da desordem”.
Atuam de maneira que o status quo seja conservado e poupado de críticas contundentes. Permitem que as hierarquias sociais, econômicas e morais sejam preservadas e pareçam “justas”. Dão a entender que a hierarquização dos seres seria natural, necessária, inevitável e indestrutível e poderia apenas ser suavizada. E perpetuam as crenças de que não existiriam alternativas possíveis, haveria apenas como aliviar os piores efeitos da ordem vigente e a igualdade moral e social entre todos seria uma ilusão utópica irrealizável – algo fora das possibilidades da “natureza humana”.
Além disso, entidades bem-estaristas frequentemente fazem negociações com grandes empresas envolvidas diretamente com exploração animal, para que reformem suas instalações e abracem a “causa” do “bem-estar animal”. Casam, com essa atitude, o “bem-estar dos animais ‘de produção’” e os interesses econômicos das corporações, e mostram como capitalismo e bem-estarismo são BFF – best friends forever.
E o que o pessoal de esquerda que defende o “bem-estar animal” e esnoba o veganismo acaba fazendo é consentir que isso continue acontecendo. É aceitar que o(s) sistema(s) se renove(m) e aplaque(m) as pressões da opinião pública contrária às mais extremas crueldades promovidas pelo capital.
Todas essas semelhanças entre o bem-estarismo e o conservadorismo reformista deixam claro que os militantes de esquerda que defendem o primeiro estão caindo numa cilada, e equiparando-se aos direitistas defensores do segundo. Precisamos, portanto, deixar evidente como os Direitos Animais e as bandeiras de libertação humana são muito mais semelhantes e inseparáveis do que o senso comum acredita, e que um não faz sentido sem o outro.
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