O amor que transcende o sabor



por Vitor Esprega

Quando resolvi aderir a uma dieta vegetariana vegana, não imaginava o quanto isso poderia ser recompensador e divertido em minha vida! Que seria diferente eu já sabia, mas divertido, nem passou pela minha cabeça. Quando digo divertido, do latim divertere, “mudar de direção”, quero expressar o quanto me adaptei a essa nova realidade de forma leve e alegre, ao invés de rebelde e sofrida.

O veganismo é um estilo de vida que escolhe não consumir alimentos que contém ingredientes de origem animal, produtos que são testados em animais e serviços que explorem os animais. Se você quiser entender os motivos que me fizeram tomar esta decisão, recomendo assistir os documentários Terráqueos e A Carne é Fraca, encontrados facilmente no YouTube.

Mas o verdadeiro motivo pelo qual deixei de consumir produtos de origem animal foi o amor pelos animais! E, então, decidi que a vida deles era mais importante do que o prazer momentâneo do meu paladar.

Quando eu era criança, amava animais. Todo aniversário na hora de cortar o bolo e fazer um pedido, ainda não realizado, eu pedia um animalzinho de estimação! Eu também tinha livros e livros sobre animais e suas mais variadas espécies as quais eu lia e relia sem me cansar. Além disso, eu pedia ao meu pai desenhar animais e recortar para eu poder brincar com eles.

Quando criança eu queria ser zoólogo para poder cuidar dos animais e, quando meus pais me falaram que no Brasil “não tinha futuro” nessa área e ganhava-se pouco (não me pergunte como eles sabiam disso ou se foi por senso comum), pulei instantaneamente para a veterinária. Mas a vida urbana e os contatos com a sociedade vão nos deixando cada vez menos sensitivos e interessados pelo coletivo e acabei optando pela publicidade. Tudo bem, foi um caminho maravilhoso traçado até aqui!

Voltando ao período pós-adesão ao veganismo, a diversão começou na gôndola do supermercado, onde precisei, de início, ler os ingredientes de todos os produtos alimentícios industrializados, porque quase 90% deles leva leite ou ovo. O ovo é um dos meios (mais inconsequentes, diga-se de passagem) de dar liga aos alimentos e o leite é um dos fatores mais viciantes da indústria alimentícia. Aí você descobre que até no adoçante em pó vai leite!

Afinal, nada melhor do que ter uma sociedade viciada em produtos industrializados que contém caseína e beta casomorfina, que estasiam nosso cérebro para termos menos capacidade de discernimento, além de corantes e conservantes que destroem a vitamina B12 produzida naturalmente pelo nosso próprio corpo para gerar uma falsa dependência do consumo da carne para repor esses nutrientes. Mas enfim, não é meu intuito focar nessa parte nutricional neste artigo.

Bem, a diversão se estendeu na busca de novas opções e sabores nas receitas e restaurantes que não utilizam produtos de origem animal. E então agradeci por morar em São Paulo! Há uma variedade razoável de estabelecimentos que oferecem cardápio vegano total ou parcial e restaurantes ovo-lacto-vegetarianos (pessoas que se denominam vegetarianos, mas continuam consumindo derivados animais) que reservam uma parte de seu cardápio também para vegetarianos veganos. A criatividade na cozinha também conquista.

Minha noiva de início aderiu apenas ao ovo-lacto-vegetarianismo, mas, ao presenciar uma apresentação do Oberom, um palestrante que fala sobre veganismo e Yoga, onde teve contato com a realidade sobre o sacrifício dos bezerros para a produção do coalho do queijo e a aniquilação cruel de pintinhos machos por não serem de interesse da indústria dos ovos, ela também decidiu aderir ao estilo de vida.

Mas a parte mais divertida é a prática social. O filósofo alemão Schopenhauer, descreveu que, o ser humano ao se deparar com a verdade diante de uma de suas ilusões cotidianas, passa por três estados: ridicularização (ironias, piadas, descriminações), opressão violenta (verbal ou física) e, por último, aceitação (mesmo que não aderindo a verdade para si). E não é que ele estava certo? Percebi que muitas pessoas ao meu redor começaram a ridicularizar e brincar com a prática. Outros, mais respeitosos questionavam, curiosos, o porquê da transformação e não entendiam as questões dos derivados.

Com muito respeito, explicava a todos eles e tentei, nem sempre conseguindo, não ser chato ao expor todas as comprovações sobre os argumentos e justificativas embasadas nas falsas alegações da mídia, influenciada pela indústria alimentícia e farmacêutica, as quais eu também acreditava e me pautava.

Alguns entendiam e refletiam, mas voltavam para os prazeres da carne. Outros alteravam seu humor e faziam brincadeiras provocativas. Depois disso, por eu manter-me com base no amor e respeitar a todos aqueles que não concordaram com a minha opção, comecei a ganhar alguns mimos e paparicos. E chegou o momento da aceitação.

Minha mãe começou a fazer receitas sem procedência animal deliciosas e diferenciadas. Minha tia preparou bolos veganos em duas festas de aniversário. Um grande amigo meu preparou um jantar vegano em sua casa para que pudéssemos celebrar juntos. Meus amigos aceitaram que preparássemos receitas para compor nossos momentos de comemoração e alguns experimentaram os pratos e, em sua maioria, gostaram (quando não deixávamos o pão de alho sem queijo queimar na grelha! rss).

Quando você pensa que os desafios acabaram, vem mais um balde de pesquisas e investigações a serem feitas! Comemorava cada descoberta, sabendo que minhas atitudes daquele momento para frente contribuiriam para um mundo melhor! Cosméticos, produtos de limpeza, sabonetes, desodorantes, shampoos, pastas de dente, entre outras coisas, em sua maioria, são testados em animais!

Fui atrás então de informações para saber se era realmente necessário e, para minha surpresa, muitas grandes empresas nacionais e internacionais não realizam sequer algum tipo de teste em animais. Então porque a maioria das indústrias continua a praticar esta insanidade? E porque o governo permite isso? Quais são seus interesses? Perguntas que não têm respostas racionais.

Então, comecei a ir atrás de produtos sem crueldade para substituir aqueles que mantinham essas técnicas insensíveis de testes. Descobrindo até mesmo que havia um selo, que algumas marcas já estão aderindo, de “cruelty free”. É possível você também reduzir seu impacto a partir de agora, optando por consumir cosméticos, produtos de limpeza e de higiene não testados em animais, que podem ser encontrados nesta listagem da PEA – Projeto Esperança Animal.

Enfim, falei bastante sobre minha trajetória destes seis meses de veganismo e a diversão em me jogar em um universo tão novo! Mas e a recompensa? A recompensa é uma vida mais saudável fisicamente, mais equilibrada emocionalmente, mais coerente racionalmente e, espiritualmente, com propósito pautado no amor, respeito e compaixão pelos seres sencientes.

Gratidão e sinta-se abraçado(a)!

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