Veganismo não é o bastante


O veganismo é insuficiente porque os animais não humanos livres e não oprimidos pelos seres humanos ainda são profundamente oprimidos e violentados pela natureza – apenas mudar hábitos de consumo e libertar os animais escravizados não basta. O veganismo diz respeito basicamente a obrigações negativas para com os animais não humanos, ou seja, obrigações do tipo não-fazer: não aprisionar, não estuprar, não bater, não esfaquear, não chicotear, não aterrorizar, não torturar, não queimar, não matar. É preciso que ativistas da causa animal entendam que todas essas obrigações, que parecem muitas, na verdade não são o máximo que podemos fazer – são apenas o mínimo do mínimo que podemos fazer pelos animais não humanos.
Veganismo é importante, mas representa somente uma pequena parte do que significa assumir uma postura antiespecista1. O veganismo não é um ápice moral que alcançamos apenas mudando alguns hábitos de consumo – tais mudanças comportamentais apenas nos ajudam a cumprir nossas obrigações negativas para com os animais não humanos, mas não garantem que estamos, de fato, assumindo uma postura antiespecista.
O antiespecismo preconiza que, além de várias obrigações negativas, devemos assumir também obrigações positivas com relação aos animais não humanos – da mesma forma como assumimos tais obrigações com relação aos demais seres humanos. O que fazer, então, pelos animais não humanos de maneira proativa e visando reduzir os danos naturais que os vitimam? Dar alimento aos que passam fome, dar água aos que sentem sede, resgatar os acidentados, cuidar dos feridos, dar remédio aos doentes, dar abrigo aos desprotegidos, amparar os órfãos, confortar os aflitos, fornecer atendimento médico e odontológico preventivo e curativo, aplicar vacinas, desenvolver contraceptivos seguros, reduzir dramaticamente a mortalidade infantil, reduzir o medo e o stress e aumentar o bem-estar geral dos bebês, dos adultos e também dos indivíduos idosos.
Todas essas são apenas algumas das muitas ações que podemos fomentar para melhor defender os interesses que os animais não humanos têm em não sofrer2 e também em desfrutar de suas vidas. Se nosso objetivo é alcançar um estado de justiça e bem-estar para todos os seres sencientes3, o ativismo antiespecista precisa trabalhar para muito além do fechamento dos matadouros e dos laboratórios de vivissecção – precisamos garantir que conhecimento científico, recursos financeiros e tecnológicos possam ser distribuídos da maneira mais eficiente e igualitária possível dentre os seres sencientes – ou seja, todas as coisas que há muito tempo beneficiam os seres humanos e nos ajudam a sobreviver melhor em um planeta repleto de hostilidades precisam deixar de serem consideradas privilégios apenas da nossa espécie.
Notas
1. Especismo. Especismo é dar consideração moral diferente a diferentes seres sencientes devido a razões injustas. Mesmo quando os animais não humanos não são explorados, ainda assim são discriminados porque eles não são levados em consideração de maneira séria. In: Ética Animal. Disponível em: <http://www.animal-ethics.org/especismo-pt/>. Acesso em 21 abr. 2016.
2. O interesse em não sofrer. Existem muitos animais não humanos que podem sentir prazer e dor. Isso se deve ao fato de, tal como os humanos, possuírem a capacidade de ter experiências. O sofrimento é ruim por definição, mesmo quando conduz a algo positivo. O sofrimento dos animais não humanos deve ser levado em conta, assim como gostaríamos que o nosso próprio sofrimento o fosse. In: Ética Animal. Disponível em: <http://www.animal-ethics.org/interesse-sofrer/>. Acesso em 21 abr. 2016.
3. O argumento da imparcialidade. O argumento da imparcialidade afirma que o especismo é incompatível com a justiça. Pode ser apresentado contra qualquer tipo de posição que mantenha que está justificado tratar pior animais não humanos do que seres humanos. Segundo o argumento da imparcialidade, manter tal posição é uma forma de discriminação. In: Ética Animal. Disponível em: <http://www.animal-ethics.org/argumento-imparcialidade/>. Acesso em 21 abr. 2016.

Nenhum comentário:

Postar um comentário